sábado, 21 de agosto de 2010

Sons de crença

Ouve-se já o som do foguete que anuncia a boa hora, trazido pelas brisas calmas e frescas do entardecer.
Trocam-se olhares entre vizinhas que espreitam à janela, aguardam esse som bem-vindo que tarda em aparecer.
Os pátios outrora repletos de crianças brincando, rindo das brincadeiras inocentes, tornam-se quietos, vazios, assombrados pelas vozes que lá já não estão.
Enchem-se agora as casas de gente, as janelas repletas de luz.
Voltam a ouvir-se os sons dos tachos e panelas cujos apitos assobiam com a urgência de quem quer comer.
Juntam-se à mesa novamente as famílias, as gentes desta terra de tons laranja, à sombra de crenças e conceitos transmitidos de geração em geração.
Preparam-se as crianças para os costumes e lendas de sempre, seguidas com afinco e afeição.
Assim foi, assim é, assim será. Insha'Allah.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cidade

Não existem as cidades,
são nossas viagens que criam roteiros-mapas de superfície luminosa.
As cidades não existem,
só os encontros são reais,
as prolongadas conversas capazes de transformar qualquer lugar em praia deserta ao anoitecer.

(Cláudio Willer)

Sonhos vendidos em bares

sonhei ser um poeta
&
escrevia canções de marinheiro
palavras fortes & poderosas colidindo
nas muralhas de aço & concreto
erguidas em mentes fracas
&
adormecidas
substituindo um hobby de juntar papel doce
para engravidar jovens de pensamentos estéreis

eu sonhei que era poeta
as palavras brilham douradas e
começam uma nova febre de ouro
nos bares onde nossos poemas e canções são cantados
mas
a luz do sol entra pelas venezianas
e os olhos cegos odeiam o passar do tempo

relógios suando
jurando escravos
da última moeda
uma assombrosa viagem de uma moeda

o suor insulta
o orgulho do poeta
palavras param no vermelho
e avançam no verde

sonhos de poeta
que terminam numa fábrica
um em um milhão despercebidos
compram sonhos vendidos em bares...

(Miguel Piñero)

domingo, 15 de agosto de 2010

A continuação

Eis que ainda por cá ando...
Foi uma semana de desafios.
Enquanto uns descansam-se, dormem, esperam que o sol toque no fio do horizonte para finalmente se poderem regalar com os prazeres terrenos, outros, eu, tento sobreviver nestes costumes tão únicos e tão diferentes dos que conheço.
É Ramadão, fecham-se as portas e janelas, na luz intensa do calor, para mais tarde, no crepúsculo se avivarem as ruas, os becos escuros, ainda que iluminados pela luz da lua.
São horas intermináveis de purificação à sombra de ideais e crenças milenares para jovens e velhos, mulheres e homens, adultos e crianças.
E assim anda vagarosamente um país, uma cidade, enquanto alguns ainda vagueiam pelas ruas à espera que as horas passem.
Trocam-se cumprimentos e palavras cuidadas pelas ruas adormecidas ao sol.
Já sob o luar, enchem-se de alegria e multidão todos os lugares antes desertos de gente.
Recomeça um novo dia em cada noite de verão.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Marrocco - o inicio

Começou agora a minha aventura por estas terras em tons laranja... novas pessoas, novos cheiros, novas texturas, novas imagens...
Uma pequena aventura com pontuações de emoção, de sentimentos fortes, de saudade, que com certeza deixará episódios para mais tarde recordar.
Fica aqui o primeiro registo de mais...

'Cenas dos próximos episódios...'

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Borboleta Azul

Voa, voa…

Sob o céu azul,

Cristalino como água,

Voa, voa…

Sente o vento nas asas,

Brisas calmas e frescas,

Brisas de verão,

Levam-te para longe.

Seguras-te numa pequena folha

De uma árvore, num ramo.

Sentes vontade de mudar.

A metamorfose do teu ovo

Para a lagarta rastejante,

Segues caminho para crisálida

E daí, para a borboleta que és,

Azul que és, livre que és…

E voas, voas…

Voa, borboleta azul, voa…

Bate asas e voa.

A vida na aldeia

Tocam os sinos da igreja

Chamam as gentes, dão as horas,

Ouvem-se em toda a aldeia

Acertam-se os relógios agora.

Ouvem-se cânticos

Comuns às gentes da terra

Trocam-se cumprimentos,

Trocam-se lamentos.

Dão-se os bons dias

Com cheiro a pão quente,

Saído do forno da vizinha

Que falta aos bons dias da gente.

Correm as crianças, frenéticas,

Em brincadeiras e risotas,

Pisam poças de água tépida,

Enchem de lama as botas.

Passam-se minutos, horas,

Sem que as gentes dêem conta.

O cheiro a pão transforma-se

Em cheiro a couves e feijão.

São chamadas as crianças

Pelas mães em aflição,

Tornam a casa, na esperança

De uma bela refeição.

E lá vão elas, contentes,

De mãos dadas, em par,

Cada uma para sua casa

Para um beijo à sua mãe dar.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

No topo da cidade

Abrem-se os céus,
Criam-se caminhos.
Travam-se novas amizades
E trocam-se conversas.
Ouvem-se gargalhadas
Ao som do mar desta cidade.
Cantam-se notas de embalar
Levadas pela brisa da noite,
No topo do mundo
No topo do ar
Longe dos passeios à beira mar.
Brilham as estrelas
Ofuscadas pelo brilho da noite,
Pela luz da lua que suspira no mar.
Colhem-se imagens e cheiros,
Sons e sabores de paixão
Para mais tarde recordar.
Assim se gravam os sentidos
Na memória das gentes,
Na memória dos amantes,
No topo do mundo,
No topo do mar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Sorriso da Lua

Este projecto, este livro, este sonho a que chamamos "O Sorriso da Lua", começa agora a tornar-se realidade. À medida que nos aproximamos da sua materialização, da sua apresentação, tomamos consciência que sim, conseguimos, que é mais um sonho - sonhado quase sem querer por uns e outros amigos, companheiros de viagem - que se concretiza.

Este projecto, tão querido de todos nós, vai colocar mais e mais sorrisos em crianças que já tão pouco têm.

Um grande obrigada a todos os que ajudaram a tornar a vida dessas crianças mais colorida.

Bem hajam pela vossa colaboração.

(Re)encontro

Chovem notas musicais caídas de uma flauta ambulante, numa rua qualquer.
Ouve-se o burburinho de uma manhã soalheira.
Na esplanada de uma praça descansam-se pessoas; esperando que o tempo por elas passe, degustam um café ou um leite aquecido pelo sol.
Gritam os trins das bicicletas que correm de um lado para o outro, frenéticas e cintilantes.
Passa uma brisa calma, fresca, que nos desperta os sentidos.
Tornamos a encontrar-nos como se nunca nos tivessemos perdido.
Retornam ao porto as esperanças outrora naufragadas.
Contam-se agora histórias de tempos perdidos entre caminhos e achados.
Ganham asas novos sonhos como gaivotas em mar revolto de tempestade.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Recomeça

Recomeça
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
(Miguel Torga)

domingo, 3 de janeiro de 2010

Viagem de emoções

Há gente, há barulho por todo lado. Crianças riem e choram, brincam. O barulho ensurdecedor em meu redor, vindo de uma máquina esquecida num canto, deixa-me apática, como que adormecida. Esquecida de pensamentos. Ocorre-me uma imagem. Uma imagem de solidão. Bate no peito a vontade de estar contigo, a saudade de te sentir nos meus braços, no calor da noite. Calo-me de palavras e fico a ouvir a música frenética. Cria-se um sentimento forte entre nós. Num súbito momento, passam-se horas sem que o relógio trabalhe. São horas contadas em minutos, segundos. Criam-se esperanças, expectativas vãs. Tratados foram falados, promessas lançadas em alto mar. Tornam-se esquecidas, obsoletas quando te dás conta que há coisas que não comandamos, não dirigimos. São sentimentos e vontades espalhadas no ar sem que as consigamos apanhar. E agora, que solução? O que fazer quando o mundo se altera, se transforma, contra tua vontade, emerge virado ao contrário? Deixamo-nos levar pela maré ou remamos contra ela. Encontrarei a força que me acompanha nesta viagem de emoções, de aventuras, de obstáculos e contradições. O que eu sei, é que nada sei. Como não sei, ...